sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

RESENHA: Retorno ao Oriente

Título: Retorno ao Oriente
Autor: Lucas Viriato de Medeiros
Editora: 7Letras
Gênero: Descrições e Viagens/Poesia brasileira
Páginas: 130
Ano: 2008
Faixa de preço: R$24,00  - R$32,00
Avaliação pessoal: 5/5

Retorno ao Oriente é o “livro 2” de Memórias Indianas. Explico o porquê das aspas: este livro não é uma continuação propriamente dita do primeiro, pois não é uma leitura dependente do outro e tampouco foi uma obra planejada.  O autor, ao encontrar-se entediado em meio a uma viagem à Europa, resolveu colocar em ação o seu plano B e conseguir um visto de última hora para voltar à sua querida Índia, ou seja, retornar ao Oriente. E, para a felicidade dos leitores deste livro, ele conseguiu. Logo no prólogo da obra, nos diz:

“Prometi a mim mesmo que, se conseguisse colocar o plano em prática, escreveria um novo livro, uma espécie de continuação das Memórias Indianas, mas independente, pois esta seria uma outra viagem. Este livro surgiu assim, um pouco como pretexto, um pouco como desculpa ou contrapartida para a nova viagem.”

2. ESSAS LETRAS

“No que dependesse
do conceito de bacana indiano
entraria uma música agora
e essas letras todas
começariam a dançar.

No que dependesse
do conceito de sabor indiano
que vai misturando de tudo um pouco
essas letras arderiam tanto
que precisaríamos de óculos escuros

No que dependesse
do conceito de harmonia indiano
que torna a vida mais bonita
essas letras todas
teriam flores nas serifas.”

A meu ver, em relação ao livro anterior, esse livro apresenta maior maturidade. Sinto que, por ter sido “previamente planejado”, houve uma maior preocupação do autor em sua produção, ao observar ambientes, pessoas e cada detalhe daquela nova experiência. Isso se traduziu no momento de passar as ideias para o papel. A percepção do novo, que já não é mais completamente novo, foi positiva para lançar um olhar mais aguçado e uma maior apreensão às minuciosidades.

4. POR QUE BUZINAMOS

“Para pedir passagem
Para pontuar a viagem
Porque vamos ultrapassar
Para dar um simples “olá”
Para evitar acidentes
Para nos fazermos presentes
Porque estamos tristes
Porque estamos contentes
Buzinamos para que os outros saiam da frente”

Sinto que, em Retorno ao Oriente, o autor encontra-se mais à vontade com as palavras, porque também estava mais à vontade no local. As descrições são ainda mais simples, sem perder a beleza da poesia, o humor marca ainda mais a sua presença. Li uma grande brincadeira composta por palavras e rimas.
 
99. RUMINÂNCIAS

“Essas vacas de Mallapuram
São umas verdadeiras felizardas
Não existe lugar em que elas vão
Que não sejam muito bem abraçadas.

E o tempo caminha de um jeito manso
Virar esquinas, revirar o lixo.
No fim do dia há sempre o balanço:
Como é tranquila essa nossa vida.

Ser uma vaca em Mamallapuram
Para muitos bovinos é façanha
Tivessem elas nascido distante
Há muito que já seriam picanha.”

Aconselho a todos a leitura de Memórias Indianas e de Retorno ao Oriente. Deixem-se surpreender com os leves e prazerosos relatos de um país que se mostra fascinante e, por meio da leitura, muito mais perto de nós.

Essa poesia concreta linda me lembrou o poema "Xícara", de José Paulo Paes. <3

Sobre o autor:

Lucas Viriato de Medeiros é formado em Letras pela PUC-Rio, na habilitação de Formação do Escrito e é, desde 2006, editor do jornal literário Plástico Bolha. É autor de diversos outros livros, dentre eles Memórias Indianas (que também foi resenhado aqui na maratona) e Contos de Mary Blaigdfield, a mulher que não queria falar sobre o Kentucky – e outras histórias. Recebeu, em 2012, o prêmioAgente Jovem de Cultura, concedido pelo MinC.

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